O tempo passa rápido, talvez mais rápido que as motos 1000cc na reta de Interlagos.
Por: Alê Eiras / Revista Pró Moto
Estamos no início de mais uma temporada do motovelocidade brasileiro. Os calendários já estão divulgados e as primeiras provas já com suas datas batendo na nossa porta.
Ao término de 2023 concluí minha 10 temporada no motovelocidade, aí veio a curiosidade de levantar alguns números que pudessem me ajudar a ilustrar o que vivi ao longo desses anos, e como guardar segredo não faz parte da “COLUNA GALERA SHOW”, quero trazer para você leitor a minha ótica de momentos importantes que narrei e que vocês certamente assistiram (seja através do Youtube ou através de postagens nas redes sociais).
Como não lembrar os grandes duelos nas pistas que tive o prazer e a honra de ser o narrador?
Os “pegas” entre Alex Barros e Eric Granado – Dentre tantos pegas protagonizados por eles, vou lembrar o de uma etapa em Interlagos em 2018, onde tínhamos rodada dupla na categoria PRÓ. Na primeira corrida o Eric venceu o Barros em cima da linha de chegada por poucos milésimos de segundos, na segunda corrida veio o troco, Barros superou Eric também por poucos milésimos de segundo, vindo com a moto chacoalhando inteira na frente da entrada dos boxes. Lembro que estava numa sala de Interlagos narrando a corrida, com a porta fechada e usando o fone de ouvido da transmissão, e mesmo assim consegui ouvir os gritos da arquibancada, como se fosse uma torcida de futebol no momento de um gol.
Outro momento que será inesquecível, ao menos para mim, será essa temporada de 2023, o título do Maxi Gerardô sendo coroado numa chegada espetacular com o Gui Brito, onde eles trocaram de posição por 4 vezes na mesma volta. E evidente que a temporada de 2023 teve um tempero especial, afinal foram muitas etapas com disputas épicas entre o Gerardô, o Gandola “EL GLADIADOR” e o Gui Brito, sendo que em algumas delas as motos inclusive chegaram a se tocar.
Todos sabem do carinho que tenho pelas categorias de base, em especial a Honda Jr. Cup, que ao longo de 11 temporadas vem dando a oportunidade para talentos serem apresentados ao esporte. Numa dessas temporadas, 2021, a disputa pelo título chegou completamente em aberto entre 3 pilotos, sendo que 2 deles podiam de forma inédita chegar ao bicampeonato (Guilherme Foguetinho e João Teixeira), eu já tinha a matemática toda pronta (ou achava que tinha), com as todas as configurações imaginando os 3 postulantes ao título nas 3 primeiras colocações, mas corridas são corridas como dizia Fangio, e para a minha surpresa, saem da curva da Junção um bolo de 7 motos, dentre eles os 3 pilotos que brigavam pelo campeonato e todas as minhas combinações matemáticas de resultados estavam indo para o espaço. Imagina você, em meio a tanta adrenalina com aquela chegada emocionante eu ter que fazer um monte de contas novamente, foi uma experiência incrível.
Mais uma memória, coincidentemente, dentro da Honda Jr. Cup. O título do Gui Foguetinho empurrando a moto em Goiânia 2020, ele disputava o título com o João Teixeira e para a infelicidade do João um tombo ainda nas primeiras voltas o tiraria da disputa dentro da pista, mas como matematicamente ainda estava a frente no campeonato o título só ficaria com o João caso o Gui Foguetinho não terminasse entre os 6 primeiros colocados. O Gui se manteve o tempo todo entre os 3 primeiros e tudo indicava que poderia levar o título inclusive com vitória, mas a pouco menos de 30 metros da linha de chegada na disputa pela liderança teve um toque e acabou caindo, lembro que nesse momento eu falava que se ele se levantasse e empurrasse a moto ele teria chances de título, pois existia uma boa diferença para o 6º colocado da prova. Como estávamos em tempos de pandemia, o autódromo sem público, da sala de transmissão ouvi uma voz feminina, não sei se dá mãe do Gui ou de outra mulher que torcia por ele dizendo… “levanta a moto e empurra, você consegue”, e assim ele fez, cruzando no limite das posições que necessitava para levar o título daquele ano.
Obviamente que as corridas teoricamente ganhas e que acabaram sendo perdidas pelo Juracy Black em 2015 e pelo André Veríssimo em 2020, fazem parte do meu “currículo” e delas nem preciso falar, pois ambas já foram vistas, revistas e exibidas em mais de 21 países em programas de fatos curiosos, sendo assim, não preciso retrata-las aqui, ou melhor, é melhor eu não querer conta-las novamente aqui, pois precisaria de uma edição da COLUNA GALERA SHOW só para ales.
Para terminar, quero relembrar o título do Felipe Bittencourt na Categoria Escola em 2021, na última prova do ano em Interlagos. Lembro que o piso de Interlagos estava traiçoeiro por conta da garoa que caia na corrida e o Bittencourt precisava chegar à frente do Alex Souza e ter pelo menos mais um piloto entre eles. Ao longo da corrida o título “mudou” de mãos pelo menos 4 vezes na batalha entre eles. Na abertura da penúltima volta o “Doc” (como é conhecido o Felipe Bittencourt) liderava, com o Cristian Simonit em segundo e o Alex em terceiro tentando ultrapassar o Simonit para ficar com o título, mas ao frear na entrada do “S” do Senna a moto do Alex escorregou tirando dele toda possibilidade de ficar com título e dando ao Bittencourt a possibilidade de somente se manter na pista para levar o título para casa. Foi incrível!!!
Atualmente temos 8 provas (em alguns anos foram 7) acontecendo com transmissão ao vivo em cada uma das etapas, baseado nesse número, multiplicado pela quantidade de etapas, podemos dizer que já narrei aproximadamente 664 corridas. Convertendo outros dados, se trabalharmos com a média de 8 horas de transmissões ao logo de cada etapa (as vezes é um pouco mais), teremos um total de 664 horas de transmissões. Se alguém se arriscar a “maratonar” todas as provas de uma única vez, ficará a frente da tela por 27 dias e 13 horas aproximadamente. Alguém se arrisca??
Bom, mas podemos brincar com outros números, imagine você que em uma média aproximada, temos 27 cerimônias de podium por etapa levando em conta as subcategorias existentes em alguns grids, com isso, já realizei aproximadamente 2.241 cerimônias de podium (somente no Superbike Brasil). E agora o número mais assustador, em cada cerimônia de podium são anunciados os nomes dos 5 primeiros colocados, ou seja, já anunciei aproximadamente 11.205 nomes ao longo desses anos.
Esses números, mais a coleção de histórias vivenciadas ao longo desse tempo são meus verdadeiros troféus, todos têm seu valor, todos fazem parte da minha trajetória até aqui e em muitos casos deixaram marcas importantes. Eles me trouxeram amigos, me ofereceram sorrisos, e profissionalmente me abriram as possibilidades de novos trabalhos, dentre tantas outras situações.
2024 já começou, em pouco tempo começarão as corridas e novamente terei a oportunidade de estar como NARRADOR OFICIAL DO SUPERBIKE BRASIL, sendo assim, que seja mais um ano de muitos momentos marcantes e especiais para todos nós.
Espero que tenham gostado e quero muito encontrá-los em breve por aqui. Estou sempre pronto para receber o seu feedback sobre os conteúdos e também trazendo suas sugestões de novos temas através do meu Instagram @ale.eiras.narrador .
Forte abraço GALERA SHOWWW!