A rotina do capixaba Rodrigo Calmon Dazzi mudou bastante nos últimos meses, principalmente neste início de ano. Neto de agricultores, Dazzi, ou simplesmente Careca como os amigos o chamam, cresceu na liberdade do campo na pequena cidade de Jaguaré e passou grande parte de sua vida entre os arbustos de café. Assim como os avós, a cultura passou para os seus pais, e atualmente ele, aos 30 anos, comanda uma propriedade rural que produz a semente de cheiro e sabor inconfundível.
Hoje em dia, ao seu nome foi adicionado um número seguido por um complemento. No mundo da velocidade, Careca passou a ser mais conhecido por Rodrigo Calmon Dazzi (#146), da equipe Giro Moto. Com uma carreira meteórica e também repleta de contratempos, o piloto ganhou destaque no SuperBike Brasil ao repetir ótimos resultados, desbancando adversários muito mais experientes. Em 2015, Dazzi participou de apenas uma corrida, a quarta etapa disputada no Autódromo de Interlagos, e o resultado revelou ao público o então piloto iniciante. Nos treinos classificatórios conseguiu a sétima posição no grid de largada e encerrou a prova em sexto lugar na categoria SuperBike Light. Esta foi a terceira corrida da sua brevíssima carreira e também a realização do sonho de correr no autódromo paulistano, o maior símbolo do automobilismo brasileiro.
Mas essa história começou bem antes, quando Dazzi ainda era um menino e mal sabia a que velocidade uma moto esportiva podia alcançar. Aos 12 anos experimentou pela primeira vez a emoção de pilotar. Seu irmão mais velho deu as dicas mais básicas e, sobre uma Honda NX 200, Dazzi acelerou pela primeira vez. Mas acelerou pouco, pois nem conseguia colocar os pés no chão para sustentar a moto parada. “Não dava pé. Então meu irmão me segurava pra eu arrancar a moto e também ao parar”, lembra.
Dazzi cresceu, experimentou diversas motos pequenas e no final de 2010 sentiu, pela primeira vez, o vento forte e o giro alto de uma esportiva. Comprou uma Honda CBR 600RR usada e não se conteve. Pouco tempo depois adquiriu uma nova, porém, a combinação de velocidade, estradas e inexperiência lhe rendeu um incidente fatídico. Dazzi sofreu uma queda, e sem a utilização dos equipamentos de segurança adequados, os danos foram bem feios. “Me machuquei muito. Não quebrei nada, mas me ralei todo. Precisaram aplicar anestesia para limpar os machucados. Tive um pequeno coágulo na cabeça que sumiu em uma semana”, conta.
Apaixonado por motos, Dazzi entendeu que aquele acidente poderia ter sido evitado e que a decisão certa seria aprender a pilotar de verdade. Decidido, comprou uma Yamaha R1 – logo depois trocada por outra CBR – e foi para as pistas, desta vez em escolas de pilotagem. Passou por quatro delas e rapidamente foi elogiado pelos seus instrutores. E foi quando decidiu: iria experimentar correr em um autódromo de verdade. Sem nenhum deles no estado do Espírito Santo, Dazzi saiu da cidade em que mora, Jaguaré, com a moto no reboque do carro e foi até Goiânia, isso em 2014, para participar de uma etapa do SuperBike Brasil. E o resultado da sua primeira participação já o surpreendeu.
“Durante a viagem falei para um amigo que não iria correr. Iria apenas fazer o treino livre de sexta-feira e o classificatório de sábado. Tinha ouvido falar que havia um tempo máximo que permite o piloto participar e não fazia ideia se conseguiria atingi-lo. Graças a Deus deu certo. No primeiro treino fiquei com medo e até pensei em desistir. Mas olhando os resultados me animei e segui em frente. Acabei me qualificando em 14º e chegando ao final da prova em oitavo”, conta.
A partir deste momento Dazzi sabia que a motovelocidade seguiria ativa em sua vida. O passo seguinte, e determinante, seria encontrar parceiros para que esse sonho tivesse continuidade. Rapidamente uma loja ofereceu ajuda com os custos de mão de obra e mecânica. Mas ainda faltava o dinheiro para a inscrição da corrida seguinte. A solução veio com a ajuda de amigos. Eles fizeram uma rifa e com o dinheiro foram pagas as despesas da corrida – que, infelizmente, por problemas mecânicos não conseguiu concluir.
Essa história continuou com a disputa da corrida em Interlagos, mencionada no início deste texto, e seguiu, agora já em 2016, com ainda mais sucesso. Dazzi vendeu diversos bens, inclusive sua moto, e comprou uma BMW S1000RR apostando em resultados melhores – e eles vieram. Na disputa da 2ª etapa da Copa Pirelli deste ano, Dazzi conquistou seu primeiro pódio com um segundo lugar. E novamente Dazzi só participou devido à ajuda de alguns amigos, da colaboração de uma empresa mineira – Ello Proteção Automotivo – e da sua equipe Giromoto.
Mas o ápice da carreira de Dazzi, até então, viria logo em seguida. O resultado da pré-temporada deu ainda mais vontade e segurança para o piloto acelerar forte e se manter entre os mais rápidos. E foi justamente o que aconteceu. Já na etapa de abertura da temporada 2016 do SuperBike Brasil, em Interlagos, Dazzi garantiu a segunda posição no grid de largada nos treinos classificatórios. Na corrida, foi impecável. O piloto fez a melhor volta na pista – 1m43s863 – e terminou a prova na ponta. “Não esperava chegar em primeiro. Foi minha quinta corrida, sonhava com o pódio, mas o primeiro lugar foi uma surpresa muito boa”, diz Dazzi.
Agora o objetivo do piloto é seguir firme na competição e lutar pelo título da categoria SuperBike Light. “Estamos tentando conseguir alguns patrocínios ou pelo menos ajuda de custo para fazer o campeonato inteiro. Vemos uma grande possibilidade de andar entre os primeiros colocados. O sonho de andar num autódromo virou o sonho de trazer um troféu pra casa, que depois de uma vitória se transformou no sonho de ser campeão”, completa.