O SuperBike Brasil implementou uma medida pioneira na motovelocidade para aumentar a segurança dos pilotos no evento. A partir da 5ª etapa da temporada, realizada em 1º de setembro, o campeonato passou a exigir uma avaliação psicológica para todos os competidores. A iniciativa faz parte da série enorme de mudanças que estão sendo implementadas em prol do aumento da segurança nas pistas.
A nova exigência é resultado do trabalho desenvolvido por diversos profissionais ligados ao evento e liderado pelo psicólogo Gabriel Okawa Belizário, formado em Psicologia e Neurociências pela Universidade da Califórnia, Santa Barbara, doutorando e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O trabalho contou com a contribuição de especialistas da aviação e especialistas na área esportiva.
Com a compreensão de que a saúde psíquica e emocional é determinante para a performance e a segurança na motovelocidade, por ser um esporte que exige atenção plena, foco, equilíbrio emocional e responsabilidade na gestão dos riscos e na tomada de decisão em pista e fora dela, o SBK Brasil incluiu essa medida na lista de obrigatoriedades para os pilotos.
Para isso, o evento buscou como referência a aviação comercial e os testes que são realizados com pilotos de avião. A metodologia, porém, foi adequada para que estivesse 100% alinhada com as características dascompetições de motovelocidade.
O teste foi dividido em aspectos psicológicos e neuropsicológicos. Os aspectos psicológicos incluem avaliações emocionais e de personalidade. Já os neuropsicológicos avaliam a capacidade de atenção, a velocidade de processamento e a memória operacional.
No aspecto psicológico, a avaliação inclui entrevista clínica, teste palográfico e BarrattImpulsivenessScale (escala de impulsividade de Barrat). Para os neuropsicológicos, são realizados o Five Digit Test (avalia a atenção), e WAIS III (avalia a memória operacional).
“Desenvolvemos isso para dar um suporte com o objetivo de reduzir os acidentes. A avaliação segue os moldes da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Ela é um pouco diferente, pois a Anac usa testes de Q.I. A gente não pede isso, mas fomos um pouco mais a fundo para ver personalidade e impulsividade. Esses são os nossos diferenciais”, destacou o psicólogo Gabriel Okawa Belizário.
A iniciativa ainda prevê a presença de outros profissionais para a realização de paletras e treinamentos na sequência do trabalho. Em alguns casos, mesmo para pilotos que forem aprovados nos exames, será recomendada o trabalho de competências mentais.
Vale ressaltar que os testes realizados são comprovados cientificamente e validados internacionalmente e também no Brasil. As avaliações têm validade de um ano.
“A importância desses testes é a gente identificar claramente se os pilotos têm as capacidades psicológicas, as competências necessárias e se estão em condições de correr. O teste vai descobrir se o piloto reage bem sob pressão, se tem um processo lógico e um pensamento ordenado que conspira a favor desse tipo de prática. O fato é que vamos descobrir eventualmente se tem alguém que não possui condições psicológicas para correr de moto, e com isso vamos preservar os outros e também a própria pessoa. É um ganho enorme”, avalia Bruno Corano, organizador do SuperBike Brasil.
Além dos testes, a nova medida inclui a presença de Gabriel Okawa
Belizário como psicólogo responsável nas etapas para aconselhamento aos pilotos. O profissional também ajudará a direção de prova na análise do comportamento dos pilotos em pista durante as corridas. Em caso de eventuais incidentes, o psicólogo realizará uma entrevista com os pilotos envolvidos para compreender quais aspectos psicológicos interferiram na ação, procedimento que já é comum na aviação.
“Não basta cobrirmos vários aspectos, como vistoria das motos e equipamentos, treinamentos do mecânicos, uso corretos dos pneus, segurança da pista, e não olhar também para o piloto no aspecto emocional além do físico”, acresenta Corano
Nesta temporada, os prazos para realização dos testes psicológicos foram separados por categorias. A exigência passou a ser feita inicialmente para os pilotos que competem em grids de motos 1000cc, mas até o fim do ano todas as categorias terão se adequado ao novo modelo.
Os testes psicológicos adotados pelo SuperBike Brasil foram elogiada pela CBM (Confederação Brasileira de Motovelocidade) e a FIM (Federação Internacional de Motovelocidade), que acreditam que futuramente outros eventos replicarão os procedimentos para tornar as corridas ainda mais seguras mundo afora.
Outras medidas de segurança também foram novamente colocadas em prática na 5ª etapa da temporada. São elas: presença maciça de barreiras de ar; vistoria com registro fotográfico de motos e equipamentos, e vistoria de boxes; exame clínico; teste de conhecimento teórico; briefings; e presença do diretor de provas da FIM (Federação Internacional de Motociclismo) Nicolás Tortone.
Foto: Sampafotos