Piloto da HJC PSBK relembra inúmeras lesões e explica como mudança na rotina o levou até o título
Mateus Bezerra,
Especial para o SBK*
O que define um bom atleta? Alguns diriam que são seus títulos, seus resultados. Outros, que é a sua entrega, dedicação e a coragem de cair e levantar ainda mais forte. Em todos estes cenários, é possível apresentar André Verissimo. O atual campeão das categorias Evolution 1000cc e EVO PRO superou quedas e fraturas até chegar ao tão sonhado título.
“Eu sempre estive envolvido com duas rodas e corridas. Desde os 11 anos ando de moto. Minha primeira fratura cirúrgica foi aos 13 anos, de mobilete. Com 28 anos, comprei uma moto de rua e comecei a andar pelas estradas. Cai, me arrebentei, e por isso vim procurar o esporte para tentar fazer isso de forma segura. Comecei na motovelocidade em 2011 com 30 anos”, resume.
Dez anos depois de começar na motovelocidade, o morador da Mooca, um dos bairros mais tradicionais da capital paulista, é um dos pilotos mais conhecidos do SuperBike Brasil. Não só pelo memorável fato de ter comemorado vitória antes da hora, na última etapa de 2020, em Goiânia, sendo ultrapassado por dois pilotos e terminando em terceiro – embora tenha sido campeão da mesma forma -, mas sim pelo seu talento nas pistas.
Mas antes disso tudo acontecer, o publicitário de 40 anos teve que descobrir sua paixão em um Track Day. Depois disso, o resto é história. “Fiz um Track Day em Interlagos, em 2011. Eu tinha uma Z-750. Mexia na minha moto na K10 Moto, uma mecânica aqui na Mooca, que tem o Mauro, que trabalha na JC. O Track Day foi em uma quinta-feira. Na sexta, eu estava louco, empolgado, querendo andar na pista, e decidi que iria montar uma moto para isso. Por acaso, eles tinham acabado de montar uma ZX-6, que seria para o Tiesco, dono da K10. Ele me falou que tinha uma pronta. Zero, recém-montada. Era um set up básico, só carenagem, quick e eletrônica, mas estava ‘zeradinha’ e montada. Decidi que seria ela. Comprei a moto no sábado, voltei e fiz um Track Day da Moto School. Então, não larguei mais”, revive.
Já no ano seguinte, no dia 6 de maio de 2012, Verrísimo conquistou sua primeira corrida. Inclusive, sem ter uma equipe, o atual piloto da HJC PSBK compartilhou boxes com outros nomes conhecidos no universo da motovelocidade: Pedro Sampaio e Juracy Black. “Fiz as primeiras corridas em 2012 sem equipe. No fundão. Box 23 e 24. Lá conheci e dividi o boxe com Pedro Sampaio e Juracy Black. Ganhei uma corrida nesse mesmo ano”, lembra.
Em 2015, André competiu no Campeonato Argentino, pela Yamaha. Porém, durante a etapa em Termas de Rio Hondo, província de Santiago del Estero, sofreu um acidente, no qual fraturou um dos braços, que o deixou fora das pistas até 2016, quando retornou ao maior campeonato de motovelocidade das Américas. Neste retorno, o número 9 integrou a equipe da Tecfil Racing.
“O Gordo que me ajudou. Estava sem moto, sem nada. Fiquei um ano com eles e 2017 fui andar com o Paulinho. Nesse ano eu já estava muito afiado na 600cc de novo. Andando ali no meio, com Pedrinho, Lucas Torres. Estava no bolo, se olhar foto de podium, estou no top five da categoria”, explica.
No entanto, mais um acidente fez parte de sua trajetória esportiva. Na etapa de Curitiba, ainda em 2017, sofreu um grave acidente, luchando o joelho da perna esquerda, que o deixou manco. “Fiquei lesionado permanentemente da perna esquerda. Por isso até, me chamam de manco”, ressalta.
Mas seria preciso muito mais do que quedas, fraturas e luxação para intimidar Verissimo. Já no ano seguinte, retornou às pistas, com uma 1000cc. “Em 2018 fiz um ano de recuperação. Em 2019, não estava com dinheiro, não tinha investimento nem nada, fiz só umas corridas para não ficar parado. Em 2020 que eu voltei na pegada mesmo. Voltei para ser piloto. Com investimento, treinando, cuidando da alimentação, fazendo tudo certinho”, afirma o atual campeão.
Tamanha determinação resultou em nada menos do que dois títulos pelo SBK, na mesma temporada. Um pela categoria Evolution 1000cc e outro pela Evo PRO, que também é disputado com motos 1000cc. Além disso, o
piloto apelidado carinhosamente de “Nutella” pelos colegas, continua se dedicando muito à vida de atleta. Nesta temporada, a receita para o título é basicamente a mesma.
“Para treinar com a moto, estava indo em todo Track Day que podia, como uma pré-temporada. Cascavel, Curitiba. Agora estou indo para Londrina, passar algumas semanas lá, porque vou começar a fazer treino com supermoto, treino de kartódromo. Para treinar fisicamente, vou na academia uma ou duas vezes ao dia. Musculação e cardio. Também me alimento certinho, não bebo. Cuido muito do físico para ir bem nas corridas, sigo à risca o que tem que ser feito”.