Na teoria da seleção natural, de Charles Darwin, é afirmado que a competição é a principal força impulsionadora da evolução dos seres vivos. Que vivemos em um mundo em que os seres que aqui habitam disputam entre si por recursos e só os mais fortes sobrevivem. Mas o que te leva a ser o mais forte? Visivelmente Ronaldo “Tutti” Ranieri tem a resposta. O atual campeão da categoria SuperSport 600 Estreante entregou resultados que poderiam ser considerados impossíveis para muitos, mas não para um competidor por natureza.
“Acredito que a competitividade em si é minha principal característica. Como vivi no mundo de competições muitos anos e, alguns anos, realmente tinha que trazer resultado, um alto teor de competitividade é algo que corre nas minhas veias”.
Para Tutti, sua relação com o maior campeonato de motovelocidade das Américas começou em 2020, na etapa de Potenza, que era a penúltima da temporada. Segundo o próprio piloto, ele não sabia o quão difícil seria estar preparado para enfrentar a competição. “A minha primeira participação no SuperBike foi em Potenza em 2020. Eu tenho uma BMW HP4 1000cc de rua em casa e achando que era super simples, pedi para a Dual Sports Performance, minha equipe atual, a montar para a pista que eu queria participar dessa etapa. Foi uma loucura, eu não tinha a menor noção de todos
itens de segurança e adaptações que tinha que fazer na moto, mas eles fizeram tudo em poucos dias e levaram para Potenza. Lá eu me senti um peixe fora d’agua, a moto é muito forte, eu estava muito nervoso na pista com todos os pilotos muito mais rápidos, eu nunca tinha andado em um Autódromo e fui me meter logo em uma das últimas etapas, onde a disputa do campeonato está super acirrada. Mas (in)felizmente na corrida choveu e eu não alinhei no grid no dia, mas foi uma experiencia incrível poder sentir nos treinos novamente tudo aquilo que eu buscava há anos”, afirma com empolgação.
Mas nem só de motovelocidade viveu o piloto de 29 anos. “Sempre fui apaixonado por esporte a motor, em especial por motos. Desde os 4 anos de idade quando eu comecei no motocross na categoria 50cc e em meados dos anos 2000 migrei para os quadriciclos. Depois tive que parar para estudar e quando bateu saudades, eu não pude retornar para o cross por conta de diversas lesões na coluna. E aí eu tive que procurar um esporte que me levasse à adrenalina que eu buscava e que não tivesse tanto impacto na coluna, e o atual parceiro da minha equipe, Marco Theodoro, me convidou para participar de uma etapa e eu me identifiquei muito”, explica.
Até por essas passagens em outros esportes, Tutti desenvolveu seu traço mais marcante: a competitividade. Então, o paulistano começou seu planejamento em busca do título. “Em 2021, eu de fato me sentei com a Equipe Dual Sports Performance para fechar o ano com eles e nós fizemos um planejamento do ano todo. Eu comprei uma moto 600cc, montei ela para pista e comecei a temporada do início. Nas duas primeiras etapas eu fui punido por infração de regulamento e isso me fez ler o regulamento infinita vezes de cabo a rabo. A partir dali eu comecei a treinar como deveria, fazer investimentos na moto e coloquei na cabeça que iria disputar o campeonato para buscar bons resultados. Eu tive uma constância muito boa nas etapas seguintes, sempre entre os top 3, mas a primeira vitória de fato veio em Goiânia, na quinta etapa e foi uma mistura de sensações: motivação para acreditar que eu, mesmo diante das punições, tinha chances de buscar o título, mesmo sendo muito difícil. E também um flash de lembrança das vezes que subi no pódio quando competia de motocross e quadricross”, revive.
Depois de sua primeira vitória, o piloto da DS Performance seguiu com seu foco e dedicação, mesmo com poucas chances de alcançar o objetivo máximo. “Para falar a verdade entre todos da minha equipe – chefe, pilotos e mecânicos – eu era o que menos acreditava em ser campeão. Tinha que fazer muitos pontos para buscar o primeiro colocado, mas vim treinando muito físico, psicológico e prática cada vez mais e sempre tentava acreditar cada vez mais. E cada etapa que eu chegava mais perto, treinava mais. E a gente foi buscando arduamente ponto por ponto, até chegar na última etapa que era rodada dupla e eu tinha que fazer a pole e ganhar os dois
dias de corrida para ser campeão por um ponto de vantagem. Convidei mais de 40 pessoas para me assistir; e ver aquela multidão de gente torcendo, me fez ter como missão levantar a taça, por mim, por eles, pela minha família e pela minha equipe DS Performance que vinha fazendo um trabalho impecável durante todo o ano”, relembra.
Para concluir, o detentor do lugar mais alto da teoria da seleção natural ressalta a boa organização do SuperBike Brasil. “A organização como um todo do SuperBike é algo que me admira. São diversos pilares que um evento desse porte demanda, eu já competi em vários esportes e nunca presenciei algo tão bem-produzido e organizado como o SuperBike, sem dúvidas é uma organização de se tirar o chapéu”.